Sem que houvesse nenhuma combinação, alguns moradores que tem suas propriedades vizinhas a encosta da Pedra do Cantagalo estão promovendo seu reflorestamento por conta própria. Essa iniciativa vem ocorrendo de maneira informal, existe no máximo uma troca eventual de idéias. Há proprietário que já deu início a esse tipo de trabalho há alguns anos, porém, para a maioria ele foi iniciado após as constantes queimadas. Com certeza, recuperar áreas degradadas, através de reflorestamento, é certamente a forma mais eficiente para se prevenir incêndios. Existe ainda diversas outras vantagens nessa recuperação: 1) melhoria da sustentação estrutural da encosta; 2) recuperação de boa parte do ecossistema original; 3) melhoria das condições de manutenção das fontes de água e 4) valorização do patrimônio privado.
O trabalho de reflorestamento envolve algumas etapas. Após determinar a área e os alinhamentos e espaçamentos entre as plantas é necessário ainda estudar quais as espécies mais adequadas ao local. Em seguida vem a manutenção ou conservação do plantio que envolve: combate aos insetos, reposição frequente do adubo e a regagem das mudas nas épocas de seca.
Obviamente todo esse processo demanda aprendizagem, o que implica dizer que o reflorestamento deve ser feito em partes. É necessário pegar o traquejo do trabalho e desenvolvê-lo com tempo, pois, mesmo cumprindo todas as etapas, algo ainda poderá não funcionar.
Uma estratégia importante é proteger a área através de aceiros (desbaste do terreno para impedir a propagação de incêndio) que devem ter as dimensões corretas. Através desses, você pode, inclusive, recuperar a mata natural que possui as espécies mais resistentes e mais adequadas ao local. Estima-se que o tempo de recuperação da mata original de uma área protegida possa levar até 10 anos.
Uma realização fundamental foi a formação de brigadistas para o combate ao incêndio. Essa turma recebeu treinamento formal e possui, ainda em pequeno número, material para o desenvolvimento desse trabalho.
Para terminar, segue abaixo o depoimento de alguns moradores que estão promovendo o reflorestamento.
Alex Ribeiro e Cristiane (depoimento)
“Desde que compramos nossa propriedade em setembro 2015, começamos com plantio de árvores nativas e também exóticas. Os motivos foram os já comentados no texto acima. Contudo, na queimada que tivemos em setembro de 2017 perdemos muitas árvores que foram plantadas. Sobraram apenas abacaxis!!!!
Na época tínhamos feito aceiro, mas o mesmo não foi suficiente para deter o fogo. A partir da temporada de chuva do final de 2017 começamos novamente o plantio. Nesse último ano plantamos mais de 100 mudas. Cerca de 70% dessas, feitas a partir de sementes colhidas durante nossas caminhadas pelas montanhas, pois somos praticantes de escalada e caminhada. Desde o meio do ano, nosso foco tem sido a limpeza do pasto em frente a montanha, mais do que o plantio em si. A limpeza do pasto permite que sementes que estão ali encubadas esperando oportunidade de brotarem se desenvolvam na sua plenitude.
Não somos especialistas no assunto, mas gastamos muito tempo em pesquisas sobre o tema, além de ter consultoria especializada (gratuita), pois tenho vários amigos escaladores que são agrônomos ou engenheiros de floresta. Por isso temos aplicados varias técnicas, que vão de agro floresta à nucleação, citando as principais. Paralelo ao reflorestamento já abrimos alguns quilômetros de trilhas em frente a montanha, o que nos permitiu criar vários núcleos até agora. Também estamos instalando caixas d’água na parte alta do pasto, para coletar água da chuva e poder regar na época da seca. Todo esse trabalho é feito com iniciativa e custo próprios e temos amigos que fazem doações. Nesse tempo todo, nunca conseguimos doação de órgão público. Quem tiver interesse estamos a disposição para compartilhar nossas ideias e estamos aberto a sugestões.”
Condomínio Vale da Mata (informação coletada)
De acordo com o síndico do condomínio, foram plantadas 500 mudas de várias espécies em uma primeira etapa há cerca de 2 anos. Dentro em breve ocorrerá outra etapa com a intenção de plantar outras 500 mudas.
Filipe Miguez (informação coletada)
O sítio em referência fica no lado oposto a encosta. De acordo com o proprietário, foram plantadas em torno de duas mil mudas numa encosta degradada utilizando-se técnicas de reflorestamento. Outras tantas também foram espalhadas pelo terreno, mas sem intenção de formar floresta. Já tem quatro anos do início do plantio.
Luis Antônio Cunha (depoimento)
“Ao lado do meu terreno, em área comum do condomínio Vale da Mata, entre a minha propriedade e a Pedra do Cantagalo há uma encosta que foi desmatada no passado, provavelmente para fazerem pasto. Só tinha braquiara e samambaias. Com a supervisão técnica da Sonia Infante, paisagista da região que fez o projeto dos meus jardins, resolvi reconstituir a flora original plantando 1.000 mudas de árvores típicas da mata atlântica e de frutíferas para atrair pássaros que se encarregaram de aumentar a área plantada ao longo dos anos. Hoje, passados 13 anos, tenho uma floresta já madura que extrapolou a área plantada devido à ajuda das diversas espécies de aves que a habitam. Anualmente antes da época das secas faço um aceiro em todo o seu perímetro com 6 metros para preservá-la dos incêndios.”
Nietta Lindenberg Monte (depoimento)
“Cerca de 400 mudas foram compradas de viveiros diversos ao longo dos 12 anos que ocupo minha propriedade que possui cerca de 40 mil metros quadrados. Mais de 2000 mudas foram plantadas na área que era formada por capim gordura. Trago mudas nativas da mata atlântica da minha Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) do sul de Minas, Ave Lavrinha, na serra da Mantiqueira. Aposto também bastante na regeneração natural com a disseminação das sementes pela fauna e pelo ar. Importante assinalar que meu sítio no Cantagalo como um todo é tomado por mata nativa e não só a área de encosta. A encosta foi de fato recuperada com mudas do viveiro Caioaba do Bruno Graell que fez sua primeira experiência de reflorestamento no nosso terreno no ano de 2014”
Otávio Cunha (depoimento)
“Há cerca de 2 anos plantamos 180 mudas e há apenas um mês plantamos mais 90, todas as espécies são da mata atlântica. Até o momento a perda foi bem pequena. Já cobrimos cerca de 40% da área total do nosso interesse, o restante iremos fazer através da recuperação da mata original, abrindo aceiros de maior porte. Pretendemos fazer vários aceiros e não apenas um, talvez três. Vamos envolver terrenos além do nosso. Consideramos de enorme importância esse tipo de trabalho perante ao grau de degradação do meio ambiente que vem acontecendo. O valor e o trabalho investido é mínimo frente ao retorno.”
Reinaldo Rabelais (depoimento)
“Fizemos alguns trabalhos de reflorestamento com o plantio de aproximadamente 500 mudas de árvores nativas da Mata Atlântica. Além disso estamos fazendo um trabalho de limpeza da vegetação (retirada do capim melado) para dar fôlego ao crescimento de novas mudas. Nas próximas semanas iremos plantar algumas mudas de Ipê, Pau-ferro, entre outras. Desde de que compramos a nossa casa, já conseguimos cobrir com árvores aproximadamente 55% do nosso terreno.”
Imagens do trabalho de Alex Ribeiro e Cristiane
Imagens do trabalho de Nietta Monte
Imagens do trabalho de Otávio Cunha